Saudades da Rua

Eu ainda lembro de quando meu pai me levou para empinar pipa em Santa Maria - RS. Nem lembro qual a minha idade e as lembranças são meio enevoadas, mas ainda existem. Lembro de correr pela rua com minha motoca e skate, de brincar com pirocóptero na primeira série. Lembro de jogar iô-iô e de fazer minhas próprias pipas com um amigo anos mais tarde. Lembro das brincadeiras de esconde-esconde, pega pega, salada mista. Do basquete de rua com amigos, dos passeios de bicicleta, das pescarias. Era um tempo tão bom que hoje já não existe mais. Não que eu queira hoje jogar iô-iô ou empinar pipas mas tenho saudades da rua, do tempo em que não dependia de uma máquina para ter algum relacionamento interpessoal. Saudades do tempo em que estar dentro de casa era castigo e não uma preferência. Só que hoje quando se fala em sair já se pensa em festa, balada, bebidas. E ainda por cima tem que tirar as outras pessoas de dentro de casa, da frente de seus computadores. E falo por mim, mesmo na rua, ando dependente do meu celular, do face, dos sms, do mp3 e da câmera. Saudade do tempo em que não éramos todos autistas afinal, hoje em dia, a realidade virtual pode ser manipulada conforme o gosto, cada um é o que quer ser, ninguém vai ver mesmo. Na rua era diferente, você fazia melhores amigos em partidas de "bafo", tazo, trocando figurinhas. Arranjava namorada na mesma rua, na escola, nas festinhas inocentes. Hoje se arranjam peguetes, conhecidas (se é que se pode chamar de "conhecida") por meio de sites de relacionamento. Saudade do tempo em que tudo era real, principalmente as pessoas. Ainda bem que ainda tenho pessoas doidas como eu no meu círculo que se prestam a fazer bagunça pela rua e a relembrar os velhos tempos. Queria passar mais tempo com estes e ainda vou, pode ter certeza. Vou matar essa saudade assim que melhorarem as coisas.
Pode parecer contraditório, um rato de computador como eu, falando sobre a vida no ambiente externo, mas eu já vivi diferente. E sempre amei a vida ao ar livre e o o "estar acompanhado". Minha vida virtual sempre foi minha "fuga" e meu "disfarce" afinal, desligo dos problemas e disfarço o fato de não poder estar fazendo algo mais interessante nas atuais condições.
Ainda vou curtir um futebol, saltar de pára-quedas, mergulhar, aprender a surfar, tirar uma tarde pra ficar com amigos em um parque, conhecer novas cidades e pontos turísticos com amigos, passar algumas noites vendo filme, falando bobagem e comendo pipoca com sala cheia. Ainda vou.
Ai que saudade da rua...
Como diria o poeta - "Ai que saudade que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida..."

Álisson Alves

Alisson Alves é o autor do Blog Gente Incomum, escritor, blogueiro, e nas horas vagas curte jogos online, tocar violão e ler.

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