Apocalipse Zumbi - Capítulo 2, parte II


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Florianópolis (Rio Vermelho - Norte da Ilha) - 12 de Agosto de 2018 - Abrigo temporário #49 - 11:07 A.M.

    Sabe quando você já acorda receoso, imaginando que o pior possa acontecer? Hoje está sendo um dia exatamente assim. Já sabemos que alguma coisa ruim pode acontecer quando formos buscar mantimentos agora após o meio dia e isto nos deixa em um pilha de nervos. O clima hoje parece estar preparando o cenário para isto. O dia está frio, um vento gelado, uma garoa fina e uma neblina no ambiente, que não nos permite ver mais do que alguns metros à frente. Pelo menos três armadilhas foram disparadas durante a madrugada mas já removi os corpos e os enterrei ainda cedo. Queimá-los chamaria muita atenção pelo cheiro, fumaça e barulho. Sem contar que com essa condição de vento e chuva, acender uma fogueira estaria fora de condições. Por azar ainda cortei minha perna, um pouco acima do joelho direito, enquanto retirava um dos corpos do buraco com as estacas e precisei fazer alguns pontos. Fora um pouco de bebida alcoólica não temos mais nada de anestésicos e em vez de agulhas temos apenas anzóis e linha de pesca. Estamos repensando sobre sairmos hoje mas, pela quantidade de mantimentos que temos, não teremos escolha. O jeito é arriscar e dar sorte nas buscas.
    Três de nós estamos acordados desde as sete da manhã. O único que ainda está dormindo, e ninguém sabe como ou porquê está com um sorriso no rosto enquanto sonha, é o Otávio. Ele liberou o Carlos mais cedo do turno dele, por volta das três e meia da manhã e assumiu até as sete quando levantamos. Ficamos de acordá-lo ao meio dia, quando estivermos para sair. 
    Estamos na parte da manhã revisando nossos equipamentos como armas, lanternas, pés-de-cabra, fósforos, kit de primeiros socorros, mantimentos como água e alguma comida para emergência. Nunca se sabe o que pode acontecer nestes dias, mas também não podemos exagerar no que levamos pois precisamos de espaço para trazer os mantimentos que encontrarmos. O Rafael é o responsável por preparar e separar estes materiais (incluindo as armas, que já foram revisadas pelo Otávio durante seu turno de vigia) e está ali conferindo a lista pra ver se falta algo antes de colocarmos tudo nas mochilas e levarmos para o carro. O carro é responsabilidade do dono, o Carlos. Conferir combustível, água, óleo, fazer ajustes no motor e equipamentos de segurança. No fim, acho que a faculdade de mecânica que o Carlos estava fazendo até tudo acontecer acabou por ser muito útil. Ele é o nosso conserta-tudo do grupo. 
Devo estar parecendo um inútil pois digo o papel de cada um no grupo mas nunca falo de mim. Eu controlo a quantidade de mantimentos, preparo as armadilhas, normalmente sou o cozinheiro (normal pra quem sabe o que tem de mantimentos), e sou o responsável por trabalhos "rápidos" quando necessário (o que sempre sobra para o que mais corre e tem a maior facilidade em ser furtivo entre os membros do grupo), e, quando uma isca é necessária, lá estou eu. O Eduardo era nosso médico e o Luiz um pouco de tudo. Mas já perdemos muitos membros nestes meses que se passaram, e cada um sempre se destaca para alguma coisa. Em memória destes uma hora escrevo sobre eles.
   O plano para hoje é irmos até um mercado que lembramos ficar na rodovia geral que cruza o Rio Vermelho. Se não me engano se chamava Mercado Ilhota. Um edifício verde  com letreiro desalinhado. Optamos por lá por ser um lugar com grades nas janelas e portas e estar direto na rodovia geral (difícil entrada para inanes ou ladrões de mantimentos sem um grupo e fácil acesso para fuga). O Plano é arrancar as grades com o carro, entrar, verificar possíveis inanes, pegar os mantimentos da lista, carregar o carro e voltar. Tudo isso em no máximo 15 minutos. 
   Iremos fazer uma triagem do que pode ou não ser aproveitado quando estivermos de volta no abrigo, não vai haver tempo para checarmos validades ou escolhermos muita coisa num local anteriormente urbano. Sairemos ao meio-dia e devo fazer um novo relatório quando voltarmos. 
   Vou pegar minhas coisas e ajudar a carregar o carro. Hoje vai ser um daqueles dias tensos...

Álisson Alves

Alisson Alves é o autor do Blog Gente Incomum, escritor, blogueiro, e nas horas vagas curte jogos online, tocar violão e ler.

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