Apocalipse Zumbi - Capítulo II - Parte IV



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Florianópolis (Rio Vermelho - Norte da Ilha) - 13 de Agosto de 2018 - Abrigo Temporário #49 - 01:14 A.M. (Acho que é assim que o Álisson estava escrevendo)

     Não sei como começar, na verdade quem está escrevendo hoje sou eu, o Carlos. Todo o dia via o Álisson escrevendo nossos relatórios. Alguns dias ele os lia em voz alta para relembrarmos as nossas aventuras, antigos companheiros, nossos progressos e regressos. Às vezes o fazia só para  ver se batia o sono. Percebi que esse é um novo diário, ele deve ter perdido o antigo no dia que tivemos que fugir às pressas há uns três dias atrás. Com os atuais acontecimentos achei que ele ficaria contente se eu continuasse os relatórios por ele.
    Não sei como ele conseguiu fazer o relatório ontem a noitinha no estado em que estava mas acho que devo continuar à partir do ponto em que ele "apagou".
    A febre e a dor estavam fazendo nossos dois amigos delirar e gritar de dor. Não gostaria nem de imaginar o que estava passando na mente deles, muito menos de sentir o que estavam sentindo. Tremiam e suavam, encolhidos nas camas improvisadas que fizemos com as almofadas empoeiradas dos sofás da sala. Eu e o Otávio discutimos muito sobre se esperaríamos realmente amanhecer para voltar para o abrigo. Não sabíamos se os dois sobreviveriam sem receber os devidos cuidados. No abrigo poderíamos fazer um pequeno fogo para aquecê-los e torcer para as armadilhas nos proteger dos inanes que por acaso vissem a claridade das chamas. Também não tínhamos mais analgésicos e antitérmicos em nosso kit de primeiros socorros.
   Quando chegou perto das 09:00 P.M. decidimos arriscar voltar para o abrigo. Amontoamos todas as coisas perto da porta e deixamos tudo pronto para carregar o carro o mais rápido possível. Primeiro nossos amigos, depois os mantimentos. Em caso de emergência deixaríamos os mantimentos para trás.
   Às 10:00 P.M. corri até o carro, a neblina havia dissipado e não estava mais garoando. O frio continuava intenso e o vento estava congelante, ainda mais para quem estava correndo. Eu sabia que não estava sozinho e que alguns inanes estavam por perto, eu podia ouví-los, mas era um tudo ou nada. Felizmente cheguei até o carro, dei a partida e voltei até onde estávamos o mais rápido possível. Nem desliguei o carro e o Otávio já estava carregando o Rafael para fora da casa, colocando-o no banco traseiro do carro. Logo em seguida eu trouxe o Álisson e o coloquei no banco do carona. Em poucos minutos estávamos quase prontos para partir, com os mantimentos carregados no porta-malas. Faltava uma mochila para o Otávio carregar, então fui logo me posicionando no lugar do motorista para partirmos imediatamente. Nesse momento foi quando um inane apareceu e se lançou contra o Otávio. Com um pontapé ele afastou o zumbi esfomeado, jogou a mochila no porta-malas e o fechou rapidamente. Quando o inane voltou a se aproximar tivemos uma surpresa, uma bala atravessou o crânio do mesmo, fazendo estilhaçar aquilo que outrora era uma cabeça. Foi aí que notamos que havia um outro rapaz, ensanguentado e fortemente armado parado ao lado do carro. Tudo o que ele disse foi "Por favor, me levem com vocês!". Não havia tempo para pensar e ele acabara de nos ajudar. O problema é que o tiro claramente sinalizou para todos os inanes da área onde estávamos. Com pressa o Otávio pegou o Álisson do banco do carona e se posicionou no banco de trás com ele e o Rafael, enquanto nosso novo "companheiro" de grupo sentou-se na frente e posicionou seu rifle na janela, por entre as proteções. 
   Perdi as contas de quantos inanes atropelamos nos primeiros 200 metros de percurso, mas assim que saímos da parte urbana voltou a ficar tranquilo. Em meia hora estávamos de volta ao nosso abrigo. 
   A primeira coisa que fizemos foi tratar de acender uma fogueira discreta em um lugar seguro do abrigo e aconchegar e medicar nossos amigos. Depois, enquanto o Otávio ficava de olho neles, eu e o nosso novo amigo, chamado Arthur (pra ser mais rápido o chamamos de Archie, pronuncia-se "ÁRTI") fomos descarregar os mantimentos. 
  Às 11:45 P.M. aproximadamente o estado do Rafael piorou. Começou a ter convulsões por alguns minutos e depois parou. Foi esse "parou" que nos entristeceu. No momento seguinte ele estava ficando em pé, com os olhos brancos como gelo. Seus movimentos estavam diferentes, mais calmos, como se fosse outra pessoa. As mãos abriam e fechavam e ainda tentava achar um equilíbrio para se manter em pé. Nós sabíamos naquele instante que nosso companheiro Rafael já não mais existia. Mas olhávamos tristes aquela cena, havíamos perdido mais um amigo. O Otávio foi bem calmamente até ele, o segurou pelas costas, e, de olhos fechados cravou-lhe uma faca por baixo do maxilar. Não tenho como descrever melhor a cena, mas nem para um caçador de inanes como o Otávio, era fácil eliminar um amigo transformado.
  À meia-noite enterramos o corpo e fizemos uma breve cerimônia (Otávio e Eu), apenas com algumas palavras de despedida, enquanto Archie ficava de olho no Álisson, certificando-se que o mesmo não aconteceria com ele, e que, caso acontecesse, ele daria um jeito.
 Agora o Otávio foi ficar de guarda lá fora. O Archie está dormindo e eu estou cuidando do Álisson que está inconsciente mas que aparenta estar melhorando.
  Assim terminou nosso dia, ainda em 4 no grupo mas já não mais os mesmos.   








Álisson Alves

Alisson Alves é o autor do Blog Gente Incomum, escritor, blogueiro, e nas horas vagas curte jogos online, tocar violão e ler.

2 comentários:

  1. esses textos estão cada vez melhores

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  2. Veio eu estou chorando por dentro...TT.TT....
    muito bom...


    Otavio....

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