Apocalipse Zumbi - Capítulo II - Parte V



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Florianópolis (Rio Vermelho - Norte da Ilha) - 15 de Agosto de 2018 - Abrigo Temporário #49 - 16:28 P.M.

     Depois de três dias dos quais não lembro de praticamente nada estou de volta. Tudo o que me lembro são pequenos flashes de momentos em que voltava a consciência e apagava novamente. Não lembro muito do que acontecia à volta, apenas da dor. Lembro de ter visto um rosto estranho, achei que fosse mais uma das alucinações que estava tendo mas descobri que era real.
    Acabei de ler o que o Carlos escreveu há 2 dias. Não sei o que pensar, não consigo acreditar que mais um amigo se foi e eu ainda estou aqui. Por mais que tenha o desejo de não morrer, já não sei mais se ser um imune é uma benção ou uma maldição. Meus amigos se vão e eu continuo aqui.
     Assim que consegui ficar em pé pedi para que o Carlos e o Otávio me levassem ao local onde enterraram o Rafael. Fiquei lá parado por um tempo. Estava relembrando dos dias que passamos juntos antes e depois de tudo o que aconteceu. Relembrei que no passado nossa diversão era passar horas jogando online ou partir para um paintball na vida real. Aquilo era o mais próximo que tínhamos de contato com batalhas. Ele sempre queria se superar, dizia que se um dia existissem zumbis ele seria o atirador de elite do grupo. Ao menos esse foi um desejo que ele conseguiu realizar antes de partir. Era o melhor atirador do nosso grupo. Atirava muito bem. Nunca fui fã de crucifixos então acima de sua cova eu coloquei seu rifle sniper (já sem munição há um tempo mas que ele amava de qualquer jeito). Acho que ele gostaria disso. Passei quase metade do dia sentado lá, na grama. Só pensando.
    Hoje conheci o Arthur. O Carlos me contou como ele veio parar aqui. Com a minha mania de observar bem as pessoas, em alguns minutos eu percebi que ele não sobreviveu à toa. O cara é um gênio. Devia ser o primeiro da turma onde quer que estudasse. Ele tem com ele mapas da cidade, com marcações de galpões, depósitos, mercados, farmácias e todos os lugares onde se possa encontrar mantimentos. Logo que tudo começou, enquanto ainda tínhamos energia e internet ele mapeou o quanto pôde da cidade. Descobri que estavam no Rio Vermelho procurando alguns membros do seu grupo que haviam vindo ao Norte da Ilha para procurar mas sobreviventes e mapear alguns lugares que haviam ficado de fora. Ele contou que eles vivem em umas 10 pessoas em um abrigo mais ao Sul da ilha, próximo ao antigo parque da Lagoa do Peri. Fizeram proveito das bombas da sub-estação e geradores municipais do parque para manter o abastecimento de água e energia. Como eu disse, o cara é um gênio. Na verdade, estavam esperando que eu acordasse e desse a minha opinião sobre o que discutiram durantes estes 3 dias: vamos para o abrigo dele ou não? É difícil confiar nas pessoas nestes dias, mas acreditamos que, se ele nos quisesse mortos, ou quisesse simplesmente nos roubar, poderia ter feito naquela noite. O carro já estava carregado, um inane já estava atacando o Otávio, então ele só precisaria usar uma bala no Carlos, pegar o carro e fugir com tudo, jogando eu e o Rafael na estrada pelo caminho. Sendo assim, concordei em irmos para o Sul.
     Não poderíamos levar tudo e nem precisaríamos pois, segundo ele, eles tinham mantimentos suficientes estocados e estavam preparados para acolher mais sobreviventes. Fora por isso que enviaram uma expedição em busca destes no Norte da Ilha. Decidimos selar o abrigo atual e deixar uma mensagem pintada em um muro na entrada, informando sobre os recursos dentro do abrigo e as armadilhas restantes caso algum outro sobrevivente aparecesse. Se não fôssemos fazer uso dos recursos deixados para trás talvez pudessem ser de ajuda para alguém que os encontrasse, quem sabe até mesmo para o grupo de expedição perdido.
    Juntamos o que julgamos ser necessário no carro, fomos até a o local de descanso de nosso antigo companheiro, nos despedimos com algumas palavras e, antes de partirmos, pedi alguns minutos sozinho para fazer esse relatório e para que não me vissem fraquejar, chorando um pouco por tantas perdas e tristezas. Não posso permitir que me vejam em momento tão fraco. Não posso correr o risco de abalar ainda mais os sentimentos deles. Eu, que normalmente sou tão racional e às vezes palhaço do grupo, não poderia transparecer essa fraqueza, ao menos não agora.
    É hora de partir. Se tudo correr bem, até a noitinha estaremos chegando no tal abrigo.
    


Álisson Alves

Alisson Alves é o autor do Blog Gente Incomum, escritor, blogueiro, e nas horas vagas curte jogos online, tocar violão e ler.

Um comentário:

  1. execelente texto, eu sabia que esse arthur tinha cara de gênio mesmo kkkkkkk
    parabéns

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