Florianópolis (Parque Lagoa do Peri - Sul da Ilha) - 15 de Agosto de 2018 - Abrigo Temporário #50 - 23:44 P.M.

     Levamos em torno de 2 horas e meia no trajeto até o local indicado pelo Arthur. Demoramos um pouco pois encontramos muitos carros abandonados no trajeto pela antiga SC-406. Quando aparentemente seguro  parávamos para procurar por combustível para o carro e geradores do abrigo.Nas buscas também encontrávamos artigos úteis como cobertores, medicamentos, fósforos e produtos de higiene. Quando chegamos ao local indicado era uma parte da estrada cercada por árvores baixas, uma mata fechada, em um terreno plano. Só se avistavam alguns morros alguns quilômetros mata adentro.  Sabia que estávamos perto da Lagoa pois já havia visitado o parque há alguns anos atrás. O local indicado era uma pequena brecha por entre as árvores, um pouco maior que a largura do carro. Era tão estreito que se parássemos ali nem poderíamos abrir as portas para sair. Adentramos na mata por uns 3 minutos até encontrarmos uma clareira com outros veículos estacionados. Quase todos tão blindados quanto o Santana.
    Antes de descermos o Arthur já nos avisou para prestarmos atenção ao caminho, se saíssemos um metro em qualquer outra direção fora da clareira estaríamos sujeitos às armadilhas. Antes de descarregarmos decidimos ir direto ao abrigo para beber um pouco de água e solicitar ajuda para o transporte dos mantimentos. Ao sairmos do carro notamos que a clareira possuía uma cerca ao seu redor, a única parte sem era por onde entramos. Também havia uma pequena lâmpada azul escuro, que mal poderíamos dizer estar ligada. O Archie desceu do carro e foi em direção à uma árvore enquanto pediu que aguardássemos. Se esticou um pouco e pegou um pequeno objeto por entre os galhos. Era um apito. Pensamos que seria loucura soprar um apito, podendo atrair todos os inanes da volta mas aí calculamos a quantidade de armadilhas pelas quais estávamos rodeados. Ele soltou um pequeno silvo com o apito e só percebemos que a lâmpada azulada se apagou. A cerca era eletrificada pelo gerador e só seria desativada no abrigo ao se ouvir o som do apito. Seguimos o Archie pelo estreito caminho que nos indicou através da mata. Sempre lembrando de não nos desviarmos. Havia algumas marcas nos troncos das árvores para indicar o caminho. Era feito no tronco de algumas árvores um pequeno símbolo, em forma de uma estrela de 8 pontas, o segredo era seguir a marca mais profunda. Segundo o Archie, toda semana alguém remarcava os troncos para não ter nenhum problema, apesar de já terem decorado o caminho. Não fizeram algo mais explícito pois em dias como hoje deve-se temer não só os mortos mas também os vivos.
     Chegamos no local e não acreditamos no que vimos. Era noitinha mas víamos um grande jardim, iluminado por alguns postes. Grama aparada, bancos espalhados pelo local e a lagoa mais ao fundo. Tudo escondido entre uma mata fechada e outra cerca eletrificada. Entre tudo isso um pequeno prédio, de 2 andares, o abrigo. Quando entramos no jardim algumas luzes foram jogadas sobre nós e só ouvimos um "Graças a Deus, Arthur!". Era uma voz feminina e a dona desta voz logo estava correndo em nossa direção e abraçava forte ao nosso novo colega. Seu nome era Ana. Descobrimos que era ela quem "cuidava" de todos no abrigo. Era a mãezona de todo mundo embora fosse tão nova quanto todos, por sinal mais nova do que eu. Só estava ela e mais duas garotas chamadas Kelly e Karol e o vigia do turno, o Manuel (que por algum motivo todos chamavam de Alan). O restante do grupo fora pescar aquela noite. Por um momento até esquecemos que vivíamos durante uma catástrofe apocalíptica.
    Nos alimentamos, buscamos os mantimentos e agora, depois de nos apresentarmos e contar toda a história para os três integrantes do abrigo, estamos prontos para dormir. O restante do pessoal ainda não voltou. Vamos deixar as apresentações restantes para amanhã. Há muito o que ser feito.
   Ainda triste pelo Rafael mas sossegado por achar um pequeno pedaço de paraíso depois de tanto tempo.
   Boa noite!