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Florianópolis - 10 de Agosto de 2018 - Abrigo temporário número #48 - 11:00 P.M.

     Estamos à luz de algumas velas fazendo o inventário dos itens que arranjamos ao arrombar um mercado próximo hoje a tarde. Não conseguimos muitas coisas. A maioria dos itens está com o prazo de validade vencida e o que presta normalmente acaba sendo encontrado antes por animais. Fora a escassez devido aos 5 meses da atual epidemia. Quando tudo começou o pânico foi geral e quase todos os depósitos, mercados e fornecedores de água e alimentos foram invadidos e saqueados. É mais fácil encontrar mantimentos estocados nas casas do que nos antigos comércios. O problema é entrar nestas casas. Se ainda há mantimentos é porque já não existem mais moradores "vivos".
    Só esta semana perdemos 2 amigos durante expedições. Infelizmente não pudemos fazer nada para salvarmos nossos amigos Eduardo e Luiz que foram pegos de surpresa quando invadimos um armazém que na verdade era um "ninho". Quando a saída fora bloqueada por uma quantidade imensa de "inanes" achamos na verdade que todos fôssemos nos juntar a eles, ou no estômago ou como espécimes. Felizmente estávamos em uma estrutura antiga e uma nova saída foi criada pelo Otávio através da parede com a ajuda de um extintor. Acho que ele sempre gostou de destruir as coisas. Dentre todos em nosso grupo, ele realmente se diverte quando "caçamos" inanes e encontramos armas e explosivos. Neste exato momento, enquanto parte do grupo faz o inventário ele está limpando as armas e afiando nossas lâminas. Não sei como alguém consegue fazer isso e viver num tempo como estes ainda mantendo um sorriso no rosto. Mesmo assim isso ainda nos dá um pouco de esperança.
     Amanhã procuraremos outro abrigo, um pouco mais afastado da área urbana. Precisamos de um pouco de descanso e mais madeira para cozinharmos os animais que caçamos, construirmos novas barricadas, estacas e abrigos. Durante estes 5 meses de apocalipse todos nos tornamos experientes em armamentos e sobrevivência. Quem não se adapta contra os inanes junta-se a eles.
     Estamos fazendo turnos de 3 horas por membro da equipe mas a cada vez que perdemos alguém fica mais difícil. Normalmente estamos perdendo 3 membros para cada sobrevivente que encontramos. E, mesmo com estes temos que tomar cuidado. As pessoas que restaram estão se tornando animalescas e desconfiadas. O instinto de sobrevivência tem tornado as pessoas cada vez mais brutais e irreconhecíveis. Alguns dos ainda vivos pouco se diferenciam dos inanes, a única diferença é que, quando matam, sabem que estão matando.
     Os melhores locais para abrigo são áreas mais isoladas, normalmente deixamos apenas 2 entradas, constantemente vigiadas. Assim sempre podemos utilizar uma delas em caso de uma fuga de emergência. Escolhemos locais em região de campo aberto onde possamos ver longe e fazer armadilhas. Criamos um sistema mapeável para que ninguém do próprio grupo acidentalmente caia nestas armadilhas. Sinalizamos os locais "perigosos" com um pequenas estacas contendo um pedaço de tecido embebido em sangue animal. É visível para os vivos mas os inanes são incapazes de perceber armadilhas e o cheiro do sangue os atrai para as armadilhas. Mas a quantidade de sangue nos tecidos só é suficiente para ser sentida a poucos metros de distância, para evitar atrair perigo para nossa proximidade mas eliminar o que estiver por perto.
   Em breve farei mais alguns relatórios e registrarei como estamos indo.
   Atualmente 4 pessoas no grupo. Eu, Otávio, Carlos e Rafael.
   Vou para o meu turno...