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Florianópolis (Parque Lagoa do Peri - Sul da Ilha) - 17 de Agosto de 2018
- Abrigo #50 - 02:00 A.M.
Dizem que o que é bom dura pouco e parece que é uma verdade. A paz que senti no abrigo foi por água abaixo. Agora estamos aqui, de guarda, com armas em punho pois os geradores pararam. O Carlos está tentando repará-los com a ajuda do Otávio e do Archie mas, fazer isso à luz de velas e lanternas não facilita muito as coisas. Para piorar, em breve também ficaremos sem combustível para alimentar os geradores então, assim que possível, um grupo deverá partir em busca de mais gasolina.
Antes de mais nada, deixem-me contar o que aconteceu no restante do dia de ontem até chegarmos a essa situação.
Acabei perdendo a noção do tempo enquanto estava à beira da lagoa. Fui caminhando pela margem imerso nos meus pensamentos e inquietudes. A saudade de alguns amigos, família e lugares que nunca mais veria me deixou numa tristeza profunda. Foi aí que ouvi uma voz diferente chamando pelo meu nome. Gritei um "estou aqui" e fiquei aguardando para ver quem estaria me procurando. Alguns minutos depois apareceu uma moça alta, loira, muito bonita, com um sorriso no rosto, embora com uma feição preocupada.
"Estão todos procurando por você!" - disse ela.
"Mas a Ana acabou de sair daqui." - eu respondi.
"A Ana deixou você fazem oito horas! Quando voltou aonde o havia visto na última vez você já não estava mais lá."
Fiquei chocado, eu realmente não havia visto o tempo passar. Estava escurecendo e eu nem havia reparado. Não havia comido nada o dia inteiro e só nesse momento percebi que estava faminto.
"Tome, é para você." disse ela, e prosseguiu, "A Ana imaginou que você estaria faminto por ter dado seus biscoitos e água para a Aline e fez uma torta para você. Como nos dividimos para procurá-lo, cada um carregou um pedaço consigo para entregar-lhe."
"Como a Ana sabia que eu havia dado meus biscoitos e água para a Aline?"
"A própria Aline retornou para o abrigo ao meio dia e contou para ela. Ficou preocupada quando percebeu que você não havia voltado. Ela está procurando por você também nesse momento."
Nossa conversa se prolongou por mais uns minutos e foi assim que conheci a Fernanda.
Enquanto eu saciava minha fome e sede, antes de voltarmos ao abrigo, ela tirou um apito do bolso e soprou alguns silvos. Em alguns segundos ouvi na floresta outros silvos em resposta. Era a equipe toda sinalizando que eu havia sido encontrado e que era hora de retornarmos ao abrigo.
Quando entramos já estavam todos lá esperando nossa chegada. Me senti mal por ter deixado todos preocupados. O Carlos voou em mim e me deu um abraço e um bruto dum cascudo que bagunçou todo meu cabelo (mais do que já estava) e deve ter me deixado com uns três galos.
"Nunca mais faça isso!" - disse ele antes de se afastar novamente.
No momento seguinte sinto um soco nas costas:
"Não nos assuste assim seu mala!" - disse o Otávio.
Eu não sabia se me emocionava, me sentia culpado ou gritava "ALGUÉM MAIS QUER ME AGREDIR?". Foi então que eu reparei que havia uma mesa posta ao fundo da sala, com tortas, sucos, biscoitos, doces e muita outras coisas gostosas como há tempos não havia visto. A Ana, a Renata e a Kelly decidiram preparar um banquete para que pudéssemos ter algo de bom no dia. Estávamos tão cheios de notícias ruins, acontecimentos ruins, pessoas desanimadas que estávamos precisando mesmo de que algo bom acontecesse.
Estava uma delícia. Descobri por causa deste banquete que a Renata, a garota de cabelos compridos e castanhos era uma nutricionista. Ela era a responsável de fazer a mágica de transformar os mantimentos encontrados em deliciosas e balanceadas refeições. Muitas das coisas que comi eu nem sequer sei o nome mas estava muito bom.
Durante o banquete fui apresentado também aos dois rapazes animados que jogavam baralho em um canto da sala. O mais novo de cabelo preto e meio rebelde se chama Rogher. Usava uma camisa preta da banda AC/DC, surrada e com algumas manchas. Percebi na nossa conversa que realmente é o mais novo da turma e uma ótima pessoa, com personalidade, gostos e caráter formado. O Outro era um pouco mais velho, tinha em torno de uns 20 anos. Mais alto, pele clara, pose de "mala". Chama-se Jonatha. O que me surpreendeu foi a pergunta dele:
"Você conhecia o Rafael?"
Ele era o "maninho" a quem o Rafael sempre mencionava e sobre quem procurava ter notícias quando tudo começou. Ele havia chegado em Florianópolis no dia que iniciou o Caos. Como o Centro e o Norte da Ilha são bem distantes acabaram separados e sem comunicação entre eles.
Conversamos um tempo sobre o Rafael e o que acontecera no tempo que ele ainda estava em nosso grupo. Fiquei de levar o Jonatha ao local onde ele foi sepultado lá no Rio Vermelho.
Também pude conversar um pouco mais com a Karol, que tinha família no Rio Grande do Sul e estava a passeio em Florianópolis no dia do Caos. Muito divertida ela e bem carente. Adora conversar e conversa sobre tudo. Na verdade acho que as pessoas com quem menos conversei hoje foram a Kelly, que acabou ficando de papo com o Carlos em um canto do banquete e o Alan que só pegou uma fatia de bolo e voltou a ficar de guarda na parte mais alta do abrigo.
Tudo estava indo bem até que cerca de umas 2 horas depois, aí pelas 21:30, tudo se apagou. Tudo ficou silencioso no porão, aonde ficam os geradores. A Ana, como a mãezona da turma já dividiu as tarefas entre o pessoal. Eu, Alan e Jonatha fomos montar guarda no alto do Abrigo. Carlos, Archie e Otávio foram tentar arrumar os geradores. Rogher ficou como guarda-costas das garotas Aline e Renata, que iriam recolher as sobras do banquete para armazenagem. A Karol, Fernanda e a Ana se encarregaram da limpeza. A Kelly acompanhou o pessoal que foi ao porão para que pudesse fornecer água e alimentos e qualquer outra coisa que viessem a precisar, sem que eles precisassem interromper o trabalho.
Quando já estava tudo guardado e limpo, as garotas, e o Rogher, refizeram uma checagem para ver se estava tudo fechado apropriadamente no abrigo e deixaram armas e munições preparadas sobre a mesa da sala principal caso fossem necessárias.
Agora estávamos no escuro e sem a cerca para nos proteger. Só podíamos contar com as armadilhas da floresta e a área de campo aberto entre a floresta e o abrigo como nossa vantagem e proteção. Estamos usando no momento arcos e flechas e bestas para evitar qualquer barulho maior que possa atrair inanes às proximidades. O Rogher também acendeu algumas tochas pelo jardim, sob nossa mira e cobertura para termos uma visão dos arredores.
Será uma noite tensa e pela manhã ainda teremos que verificar o estacionamento e toda a área de jardim e lagoa para não nos surpreendermos com inanes dentro do território após o conserto dos geradores.

Show...^^
ResponderExcluirManin....T_T
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