Quando eu era mais novo as pessoas se comunicavam apenas por cartas. Somente em casos mais urgentes se usava um telegrama, como no caso de um aniversário. Era necessário dedicar tempo para sentar e expressar os sentimentos em forma escrita. O papel importava, as decorações, perfumes, clips e quaisquer coisas colocadas nele. A letra então era essencial. O formato das letrinhas era motivo de vergonha e preocupação constante.
Nessa época as pessoas se obrigavam a saber escrever. Saber escrever era uma necessidade diária e não como hoje que serve apenas para redação de concursos. Se você pedir para alguém escrever uma página manuscrita ela vai lhe perguntar que "fonte" é essa ou vai tomar um cansaço no punho ou encher uma página de caderno com palavras destruídas como pq, vc, v6, c/, t/, e outros dialetos provenientes de informatização.
O legal de escrever cartas era saber que a pessoa TINHA que dedicar tempo para fazer isso. Além do tempo dedicado à escrita da carta, ela ainda tinha que selar, ir até o correio e esperar alguns dias para a carta ser entregue. Depois o processo inverso também levava dias. Era uma tortura, mas era legal. As pessoas não tinham o tempo como inimigo, nem a distância, nem a saudade. Elas davam um jeito, mesmo sendo tudo mais difícil.
Hoje tá tudo muito fácil, você manda sms, email, conversa pelo facebook, skype e assim vai. Pra ir pra qualquer lugar existem linhas de ônibus, avião, trem, etc. Ainda assim existem aquelas pessoas que dizem que nunca tem tempo ou alguma forma de fazer algo dar certo. Coitadas, teriam morrido se ainda estivéssemos alguns anos no passado. Elas preferem ficar como na gravura, uma em cada canto, só imaginando em vez de fazer acontecer. Hoje, os corajosos e apreciadores são taxados de loucos mas acreditem, os loucos são os felizes. Os corredores ocupados de hoje vão ser velhos desgostosos, carentes, doentes e tristes daqui a alguns anos. No momento mais forte das suas vidas eles estão simplesmente "correndo" e deixando passar tudo.
Esses meses atrás recebi um cartão pelo correio, em um envelope normal, com endereço e mensagem escritos à mão. Ainda lembro dele, mas não lembro das SMSs que recebi no mês passado.
Ah que saudade do tempo das cartas, do tempo em que, pra alguém dizer que se importava, já tinha que fazê-lo demonstrando isso...
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Autor
Álisson Alves nasceu Bagé, Rio Grande do Sul, tem 32 anos. É escritor, blogueiro, e nas horas vagas curte jogos online, tocar violão e ler.

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