Apocalipse Zumbi - Capítulo III - Parte V



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Florianópolis (Parque Lagoa do Peri - Sul da Ilha) - 17 de Agosto de 2018
 - Abrigo #50 - 23:42



    Mais uma vez aqui estou eu, Carlos, substituindo o dono original do diário em vista das circunstâncias. Sofremos uma ataque nesta madrugada após termos problemas nos geradores e passarmos por um incêndio acidental no jardim frontal do abrigo. Não consegui ver tudo o que aconteceu, apenas estou resumindo o que me contaram e que conseguir acompanhar de relance pois estava ocupado no porão enquanto quase tudo acontecia. Perdemos mais um membro do grupo, o Alan. Não o conhecia muito bem mas para o grupo que já estava no abrigo parece ter sido uma grande perda. A minha preocupação é com o Álisson. Parece que no meio do tumulto ele e o Alan saíram para resgatar o Rogher e a Fernanda de um grupo de inanes e o resultado foi trágico. Embora o Rogher e a Fernanda estejam bem (ela apenas com o tornozelo torcido e inchado), perdemos o Alan, e o Álisson está de cama, seriamente ferido. A febre não está dando trégua e os analgésicos parecem não fazer muito efeito. Os espasmos e gritos de dor nos machuca a alma e às vezes saímos do abrigo para não termos que escutá-lo. Não podemos fazer mais nada a não ser esperar.
    A Fernanda está ao lado da cama, tratando-o, dando remédios, soro e trocando o pano úmido em sua testa. Ela lê e canta pra ele para ver se consegue amenizar um pouco a agonia em que se encontra e realmente estamos admirados com o cuidado que ela tem demonstrado a ele. Ele está em um estado que não podemos chamar de consciente. Ele às vezes abre os olhos, com uma expressão de pavor e logo apaga novamente. Não pronuncia palavras, apenas gemidos ou gritos excruciantes de dor. Ele não havia sofrido tanto assim na primeira vez que foi mordido então desta vez não sei se ele aguentará.
   Hoje novamente dividimos as tarefas a serem feitas e estamos agindo com cuidado redobrado. Ainda estamos sem os geradores e, consequentemente, as cercas eletrificadas. Após o dia amanhecer começamos os trabalhos de remoção dos corpos dos inanes do jardim e armadilhas da floresta. Eram muitos. Fora os que foram eliminados no jardim haviam mais algumas dezenas que haviam sido contidos pelas armadilhas. Alguns ainda se mexendo atravessados por estacas ao fundo de buracos, presos à pêndulos feitos com troncos e cordas, e assim por diante. O cheiro estava horrível. Inanes, mesmo em atividade, já fedem a defuntos, quando estão partidos em pedaços então, tornam-se insuportáveis. Precisávamos nos livrar logo deles para não atrairmos mais. Abrimos uma grande vala aos fundos do abrigo e os enterramos lá. Eu, o Otávio, a Kelly ficamos encarregados da limpeza dos corpos na floresta e estacionamento. Além de estarmos mais estáveis psicologicamente, a Kelly havia ajudado a montar as armadilhas e nos ajudaria a não cairmos em alguma ainda armada. O Archie e a Aline ficaram responsáveis pela análise e conserto dos geradores. o Rogher estava dando suporte para a Fernanda nos cuidados ao Álisson. A Ana e a Renata ficaram responsáveis por reparos no abrigo, jardim e da alimentação do pessoal. O Jonatha ficou de guarda mais uma vez após descansar por umas duas horas essa noite.
   Ao meio dia colocamos os poucos restos mortais do Alan sobre uma pira que fizemos no local anteriormente já incendiado do jardim. A Ana fez um pequeno discurso enquanto o fogo consumia a lenha e o que restara de mais um herói perdido nesta batalha.
  Os funerais parecem estar ficando cada vez mais curtos e a tristeza cada dia maior. Não sei dizer se estamos ficando calejados mentalmente com as mortes ou se estamos, simplesmente a cada dia, mais perto de desistir de tudo.
   Um fato que achamos curioso enquanto retirávamos os corpos dos inanes da floresta foram as árvores rachadas ao meio, em uma trilha, como se tivesse passado um trator por ali. Nas armadilhas deste caminho haviam nacos de carne podre mas não haviam inanes presos a elas. Lembramos das histórias que criávamos sobre zumbis e dos jogos que jogávamos e por um momento sentimos um frio na espinha. E se houvesse agora algum novo tipo de zumbi. Algo grande o suficiente pra fazer aquele estrago e ignorar as armadilhas? Não havíamos ainda nestes meses visto nada que fugisse ao padrão de um zumbi comum. Eles só são quase tão fortes e rápidos quanto eram em vida. Mas mentalmente são lentos, o que garante nossa sobrevivência.
Vamos levar o Archie amanhã até a floresta para ele dar um parecer sobre o assunto.
   Vou tentar dormir um pouco, nesta última hora parece que a dor do Álisson aliviou e não estamos mais ouvindo gritos dentro do abrigo. Na verdade, acabo de ver a Fernanda sair mancando do banheiro. Parece ter se banhado e estava com uma cara tranquila. Devo supor que isso represente alguma melhora no estado do meu amigo. Realmente espero que amanhã já possamos tê-lo de volta à consciência. Os geradores ainda não estão ligados e ainda precisamos ir atrás de mais combustível caso voltem a funcionar. Enquanto ele não se recuperar teremos 3 membros a menos no grupo agora (ele e os dois que o estão cuidando). Vou dormir um pouco pois logo será meu turno como vigia.
  Boa noite.


Álisson Alves

Alisson Alves é o autor do Blog Gente Incomum, escritor, blogueiro, e nas horas vagas curte jogos online, tocar violão e ler.

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