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Florianópolis (Parque Lagoa do Peri - Sul da Ilha) - 18 de Agosto de 2018
- Abrigo #50 - 23:17
Boa noite, Carlos novamente. Boa notícias hoje, o Álisson acordou. Ainda está um tanto fraco e, por não saber nada do que aconteceu enquanto está de cama, pediu para que eu escrevesse sobre o dia.
Tivemos nossa esperança reavivada hoje. Escutamos explosões durante a tarde e vimos colunas de fumaça em algumas partes do horizonte. Logo em seguida percebemos que haviam aviões de combate sobrevoando a área. Se até então estávamos nos sentindo isolados do mundo nesta ilha, agora temos uma pontinha de esperança de que a ajuda está a caminho. Ao que sabemos o aeroporto local e a base militar estavam completamente destruídas portanto, estes aviões só podem ter vindo de outro local. Infelizmente foi rápido demais e não sei se conseguiram reparar no nosso pessoal pulando no meio do jardim quando passaram por cima do abrigo. Mas, só de saber que não estamos sozinhos, já temos motivos para lutar um pouco mais.
O Álisson acordou logo depois disto, era entrada da noite quando a Fernanda ouviu ele dizer: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!", citando "O pequeno príncipe" que ela leu para ele durante estes dois dias. Logo em seguida ele abriu os olhos, sorriu e, com os lágrimas prestes a escorrer, disse: "Obrigado! No meio de tanta dor e pesadelos, sua voz foi o que me manteve vivo. Eu sabia que sua voz era real e a ela me segurava para não desistir ou enlouquecer". Ele descreveu o que sentiu, dizendo que parecia que seus ossos haviam sido moídos e reconstruídos, que seus músculos haviam trabalhado direto durante estes dois dias, estava exausto, faminto e sedento. Quando lhe alcançamos um copo com água ele o destroçou só em pegá-lo. Definitivamente algo está diferente com ele. Ao que parece, o vírus que transforma a maioria das pessoas em inanes também afeta os imunes até um certo ponto mas de forma diferente. Realmente, analisando bem, parece que o Álisson deu uma "crescida" nestes últimos dias. Ele pediu para que nós o alimentássemos ainda hoje pois sentia um certo "descontrole" sobre sua coordenação e força. Também estranhamos o pedido dele para que alguém o vigiasse de arma em punho pois se sente "estranho". Ele parecia uma criança enquanto recebia colheradas de sopa na boca, dadas carinhosamente pela Fernanda que, para quebrar o clima sério da sala, fazia aviõezinhos com a colher. Ao mesmo tempo ele parecia um bandido tendo que ser vigiado de arma em punho pelo Otávio (de todos que o poderiam vigiar, ele era o que mais metia medo, mas que sabíamos que não titubearia caso algo acontecesse e fosse necessário disparar).
Felizmente até agora nada de ruim aconteceu, o local está tranquilo e bem protegido. Fechamos todas as janelas e portas e as selamos com madeiras pregadas. Estamos à luz de velas pois ainda não temos os geradores mas estamos quase lá.
Pessoal está dormindo, com exceção do Jonatha, Rogher, Renata, Ana e eu. Nós já dormimos durante o dia durante algumas horas para aguentarmos a noite na vigília. Também estamos preparando algumas coisas para amanhã. Será o aniversário do Álisson e por causa disso a Renata está separando ingredientes para preparar um bolo e alguns docinhos enquanto a Ana está dando uma decorada no abrigo.
Hoje também dei uma conversada com o Archie sobre o que vimos na mata e sobre as mudanças no Álisson. Acabamos nos perguntando se mesmo um imune não pode enlouquecer e se modificar drasticamente no convívio com inanes, sendo repetidamente mordido e recebendo vírus de hospedeiros diferentes, sendo capaz de partir uma árvore ao meio. Acho que só vamos confirmar ou descobrir isso se nos depararmos com a criatura responsável por aquele estrago.
Bom, vou fazer uma ronda, espero que tudo esteja calmo esta noite e que amanhã seja um dia mais alegre, renovando ainda mais nossa força e determinação, assim como a esperança de termos algum dia novamente uma vida "normal". Boa noite!

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