Florianópolis (A caminho da base militar)
- 30 de Agosto de 2018 -
- Área de Extração - 15:30-
Sobreviventes atuais: Álisson, Fernanda, Ernani, Renata, Otávio, Jonatha, Carlos, Kelly, Aline e Rogher.
Quando o dia clareou era hora de deixarmos nosso luto de lado e seguir em frente. Fizemos uma conferência do que ainda tínhamos à disposição como comida, medicamentos, armamento, e assim por diante. Não havia praticamente mais nada. Nem para resistir ao ataque de mais um grupo de inanes ou para nos alimentar por mais dois dias. Estávamos no meio do mato, com alguma noção das proximidades. Mas ainda sabíamos que faltaria muito pra chegar até a base militar. Muito mais do que todos nós poderíamos suportar em condições tão precárias. Era arriscado demais voltar até onde o massacre aconteceu pra tentar recuperar o que pudera ainda existir de suprimentos. O barulho causado com certeza atraiu hordas e hordas até o local. Seria uma missão suicida.
Decidimos seguir em frente, rumo ao norte, apontado pela bússola que o Cap. Ernani ainda tinha consigo. Era ela, uma faca, uma mochila com alguns poucos mantimentos e kit de primeiros socorros e um pequeno rádio de curto alcance que vivia em silêncio. Isso, até hoje!
Era perto do meio dia, nossos estômagos denunciavam isso pela fome e cansaço. Não tínhamos mais do que apenas mais uma lata de feijões pra dividir entre nós dez. Dividimos de uma forma que achamos mais justa, e preferi mentir não estar com fome para ceder minha parte para a Fernanda. Eu era o mais próximo entre todos de já virar um monstro. Não suportaria ver ela desmaiar de fome ou desfalecer com o cansaço antes de mim. Se eu percebesse que estava no meu limite, me afastaria do grupo e colocaria a culpa nas mutações que tive. Fingiria ser uma ameaça e pronto, não deixaria que me vissem cair depois de tanto lutar.
Foi nessa hora que o pequeno rádio foi ligado e deu sinal de vida. De imediato o Ernani reportou à base uma localização aproximada de nosso grupo e os acontecidos até então. Ficaram assim de nos enviar socorro por um helicóptero.
Ouvir aquilo fez com que todos sorrissem e chorassem ao mesmo tempo. Poderíamos viver, tínhamos chance! Só precisaríamos aguentar mais umas horas. Combinamos o local de extração e partimos em caminhada, ansiosos e nervosos. Rezando para não encontrarmos mais surpresas pelo caminho, afinal precisávamos ir novamente para a estrada, em um local de campo aberto ali próximo para que o helicóptero pudesse pousar. E sabíamos que o barulho de sua aproximação atrairia atenção indesejada. Portanto, precisávamos estar preparados e agir rápido.
Depois de uma meia hora de caminhada e estudando os melhores locais, chegamos a um descampado próximo à estrada. Eu, o Otávio e o Carlos ficamos encarregados de espalhar os sinalizadores (como bastões de fumaça colorida) em volta do descampado, enquanto o Ernani fazia contato pelo rádio solicitando a extração. O restante do pessoal ficou próximo ao centro, o local de pouso, para agilizar o transporte de tudo e todos.
Às 15:00 chegou nosso transporte e podíamos ver que, com seu barulho, também chegavam os inanes. Agora era correr contra o tempo e não errar. Felizmente tudo ocorreu bem e aqui estou eu, escrevendo apenas um pouco do que aconteceu neste dia, quando as esperanças de quase todos se renovaram. Digo quase todos pois estamos à caminho de uma comunidade protegida e mais segura do que uma floresta, sem recursos e cheia de perigos embora tenha me surpreendido, mas não sem saber por que. Após todos estarem dentro do helicóptero, fui isolado de todos e posto aos fundos deste, fiquei fortemente amarrado a um cinto pela cintura e com presilhas fortemente fixadas em minhas pernas. Só a pedido do Cap. Ernani que me mantiveram os braços soltos para que eu pudesse neste momento documentar mais um dia. Já imagino o que me espera ao chegarmos na base. Mesmo com certo alívio nos corações, vejo o medo e a ansiedade nos olhos de todos meus companheiros ao me ver preso, como uma cobaia ou experimento militar aqui ao fundo. Vejo as lágrimas escorrerem nos olhos da Fernanda, mas disse a ela baixinho, para que lesse nos meus lábios: "Não chore, te amo, tudo vai ficar bem!"

Vicio rs .. To lendo os capítulos q tinha deixado passar.
ResponderExcluirBy: Alan