Florianópolis
- 02 de Setembro de 2018 -
- Rio Vermelho - De volta ao abrigo provisório #49 - 23:50-
Saímos da base que agora estava tomada pelo pânico, chamas e alvoroço. Atravessamos os portões e deixamos para trás o que achávamos que seria novamente um recomeço. Perdemos o abrigo no sul da ilha, perdemos a base militar ao norte. Cabisbaixos retomamos o curso até chegarmos ao antigo abrigo onde praticamente começara a escrever este diário. Por sinal é um caderno pequeno e está no fim. Logo terei que começar outro. Lamento ter perdido os anteriores na mochila que ficou para trás em uma de nossas aventuras. Portanto vou escrever agora em suas últimas páginas os fatos mais importantes entre ontem a noite e hoje.
Nossa saída da base e caminho foram tranquilos, acho que toda a bagunça que houve no local da base deve ter atraído todos inanes e tratores da região. Por quilômetros podia-se ver a coluna de fumaça, mesmo à noite, saindo da base. Os clarões das explosões eram como relâmpagos, e o som dos tiros ecoavam noite adentro.
Ao chegarmos ao abrigo ainda haviam nossas inscrições com as instruções e muitas das armadilhas agora estavam ocupadas por corpos dos inanes. Nenhum deles conseguiu chegar até o abrigo, e, pelo visto, nenhum grupo de sobreviventes também passou por aqui. Tudo estava empoeirado e intacto, exatamente como deixamos. Só limpamos o local e reorganizamos as armadilhas. Fora mais difícil acomodar agora 20 pessoas em vez do nosso pequeno grupo da outra vez.
Levei o Jonatha até a Sniper que demarcava o local onde jazia um de nossos companheiros e lá ele ficou o resto da noite, pensativo, talvez contando a "ele" sobre como fora sua viagem, o que teriam feito se nada disso tudo tivesse acontecido...
Quanto a mim, dei uma abraço apertado na minha esposa, a ajudei a montar uma cama aconchegante como pudera com mantas e sacos de dormir do quartel, lhe dei um beijo e fui atrás das verdades que eu procurava.
Chamei o Cap. Ernani a sós e cobrei dele as verdades necessárias sobre tudo o que estava acontecendo. Vou tentar transcrever o que ele me disse após demonstrar um tanto de receio e arrependimento:
"A base que conheceram era mais do que um abrigo para os sobreviventes. Era um laboratório. Por isso separaram você e pegaram amostras. O interior da base era recheado de zumbis e tratores, mas todos eles agiam de forma inconsciente. Nunca se havia visto uma mutação como a sua, onde um imune pudesse se adaptar ao veneno e continuar humano. O fundamento da pesquisa era achar a falha do vírus original. SIM, Nós fabricamos o vírus original! Estávamos desenvolvendo junto com governos estrangeiros um vírus capaz de ser utilizado no exército inimigo para que ele se destruísse internamente, sem precisarmos arriscar nossos próprios soldados. O único problema é que o vírus deveria expirar. Ele deveria agir por 1 ou dois dias em cada infectado e depois se extinguir junto com seu hospedeiro. Mas não o fez. Ele dura e mantem os sistemas básicos do hospedeiro até que esse se decomponha. Florianópolis foi o local escolhido para esta pesquisa pois se algo desse errado, explodiríamos as pontes e fecharíamos o aeroporto e detonaríamos a ilha inteira. E, se estou lhe contando isso é porque é tarde. Como a base de pesquisas se acabou, essa próxima etapa do plano será executada. Tudo aqui será incinerado com bombardeios incendiários ou até mesmo armas atômicas. E não adianta tentar fugir da ilha pois existem caças, navios cruzadores e submarinos autorizados a abater qualquer alvo tripulado que tente deixar a ilha. Quer saber aonde tudo deu errado? Um funcionário direto do laboratório de pesquisas, que já estava descontente e cansado com seu trabalho, acidentalmente se infectou ao entrar em contato com uma agulha que continha o soro. Ele não contou a ninguém e, como já estava na hora de sair, deixou o local de trabalho, mas levou consigo o vírus em seu sangue. Ele sabia que iria morrer, mas, indignado como estava, agiu como um verdadeiro terrorista. Ele encheu mais algumas seringas com seu próprio sangue e fora ao aeroporto da cidade. Colocou as seringas em uma mochila, deixando apenas as pontas das agulhas de fora. E saíra esbarrando nos demais no local.
Ele foi o primeiro a se transformar e a começar a atacar os outros. As autoridades logo o neutralizaram mas se surpreenderam quando outros começaram a ter o mesmo comportamento. E ao longo dos minutos e horas, aqueles que haviam sido dados como mortos começaram a levantar e a continuar o massacre, mas agora fazendo o ataque crescer de modo exponencial. Quando o exército fora comunicado e chamado para ajudar, o caos já havia se implantado e os meios noticiosos espalhado a notícia. Muitos infectados pelas agulhas já haviam embarcado em seus aviões e levado a praga para outras cidades e até outros países. O comando do exército, que sabia da pesquisa, mandou então derrubar as pontes e fechar o aeroporto. Comunicou os principais governos do mundo e pediu colaboração. Começaram a implantar bases pela ilha e nos locais para onde partiram os vôos daqui naquele dia. Para a mídia mundial, tudo foi exposto como uma nova doença e não como uma arma biológica. Alguns governos pulverizaram as cidades onde houve relato de infecção, outros usaram quarentenas e executavam apenas os infectados. Mas aqui o Brasil tudo aconteceu rápido demais e houveram estas mutações diferentes. Mesmo que se controle o resto do país, Florianópolis é o alvo do exército pois não querem perder o vírus, não importa o estrago que tenha feito. Então eles devem agora juntar algumas amostras vivas, isolá-las, transportá-las para outro local e vão purgar a ilha por completo. Devemos ter alguns dias ou no máximo algumas semanas até que isso aconteça. É o fim! Na minha opinião pessoal eles ainda vão atrás de uma amostra em específico: você! Quando removi sua pulseira e viemos para cá, eu desobedeci as ordens de meus superiores de encarcerá-lo para transporte. Preferi dar a você e aos seus amigos a chance de lutarem e achar uma forma de escapar. Esse é meu presente de casamento para você!"
Após me contar estas coisas, pediu licença, juntou os seus soldados, bateu continência e fora embora em um dos jipes, deixando-nos os mantimentos e armamentos. Provavelmente voltara à base para enfrentar as consequencias de sua decisão particular.
É tarde demais para eu partilhar essas informações com os demais, a maioria já está dormindo ou ocupada com a guarda do local. Nem sei se devo contar pra eles. Tudo o que sei agora são duas coisas:
1ª -Precisamos dar um jeito de sair da ilha!
2º - Providenciar um novo caderno!
Boa noite e boa sorte a cada um de nós!

Agora complicou em...
ResponderExcluirAlan.