Apego ou Amor


Hoje fui confrontado com a seguinte frase: Se uma pessoa é capaz de desapegar é porque nunca amou de verdade. Pois bem, eu disse que escreveria sobre isso hoje antes de dormir, e é o que vou fazer.
Primeiro vamos às definições aos meus olhos sobre as duas coisas:

Apego - Uma ligação sentimental não construtiva. É como um adesivo. Um motivo para você estar querendo estar próxima a outra pessoa. Um sentimento ruim? Depende no que ele evoluir. Um apego pode lhe deixar mais próximo criando sentimentos produtivos como amizade, companheirismo e até o amor. Mas também pode lhe tornar alguém compulsivo por outra pessoa sem correspondência. Assim como dois materiais podem se unir ou não, o adesivo continua sendo um adesivo...

Amor - Característica desenvolvida a dois. Não existe amor provindo de apenas um lado, isso se chama obsessão, ou como dizem, amor platônico. Mas já existem amores demais pra que eu use este termo aqui. Amor é uma característica que lhe faz bem. Ele acentua tudo o que você tem de melhor e torna um relacionamento agradável e suportável. É mais do que um adesivo, é uma fusão.

Partindo destas definições resumidas vamos às origens das duas coisas.

Normalmente o apego surge quando você encontra uma pessoa com quem se identifica. Quando isso acontece torna-se óbvio que você quer estar junto com aquela pessoa sempre que possível. Isso faz um bem ao seu ego, mas pode ser que não faça pra outra pessoa. Mas, vamos dizer que este não é o caso. Se o apego for correspondido, as duas pessoas passarão a gastar tempo juntas, se conhecendo. Nesse ponto começa o que chamamos de amizade. É um sentimento gerado pela confiança e apreço mútuos. Quanto maior o tempo juntos, maior o conhecimento, confiança e cumplicidade. Quando se tratam de duas pessoas que estão interessadas em um relacionamento, é bem possível que a amizade se desenvolva em uma paixão. Alguns interesses românticos virão à tona e as suas demonstrações também. Pode ser que dê certo ou não. Se der errado, normalmente a amizade torna-se algo estranho entre as duas pessoas mas independente como termine, pode-se perceber que o apego ainda existe. Quem gosta de ver um amigo virar as costas ou alguém por quem se apaixonou andando com outra pessoa? É raro não é? Mas o sentimento de ciúmes, raiva, frustração é resultante do apego ainda existente entre as duas partes. Mas vamos em frente na hipótese contrária. Digamos que a paixão é correspondida. Ambas as partes demonstrarão afeto maior e conviverão juntas com maior intensidade. Normalmente o contato físico e emocional nesse momento de paixão vai lhe mostrar todos os traços da outra pessoa. Decide ver quem quer a todos eles. Porque nunca serão só coisas boas. No momento em que as diferenças e defeitos forem aceitos junto com as qualidades e o relacionamento se sustenta com cumplicidade e conforto mútuos, além das forças externas, se torna um amor. O amor não é cego como dizem, a paixão é! O amor vai lhe tornar o melhor companheiro da outra pessoa indiferente do que aconteça. Isso o torna invencível e eterno? Não. Assim como até o seu desenvolvimento foi necessário tempo e dedicação, sua permanência também exige tempo e manutenção. Se uma das partes perder a confiança, companheirismo e mutualidade, esse amor passa a definhar e regredir em condição. O amor romântico é como uma planta, precisa ser cuidado e regado todos os dias. Caso isso deixe de acontecer por um tempo, ele murcha e morre. E aí o que acontece? Bom, se os estágios tiveram que ocorrer em uma direção para se criar o amor, consequentemente atitudes reversas causarão o regresso dos estágios. Muitas vezes em saltos. Nem sempre antigos amores conseguem manter amizades imediatas. A paixão e o apego são inimigos cruéis de se viver quando não são correspondidos. Você se torna ciumento, raivoso, triste, e assim por diante.
Ou seja, amor e apego não são opostos, são apenas estágios diferentes dependendo da correspondência de outra pessoa.
Então seu eu pratiquei o desapego e já não sou mais ligado à antigos amores não significa que nunca os amei. Não significa que nunca senti o que era amor. Só significa que não estou mais sofrendo e querendo que outra pessoa sofra por mim.
Desapegar é mais difícil do que amar. Quando se ama, se está lutando a dois. Quando se está apegado você luta contra si mesmo e tudo que gostaria que acontecesse pra você. Indiferente do que o outro queira ou sinta. Apegar-se a amores falidos ou não correspondido é como estar em um barco afundando e segurando uma caneca para tirar a água, enquanto se enfurece e xinga os céus pela chuva e o mar por estar revolto. Mas foi você que não viu a previsão e que levou o barco até lá. Depois que ele começa o naufrágio à ponto de não ter mais salvação, você é que escolhe se afunda com ele, se lança ao mar com algum tipo de salva-vidas, ou se prefere nadar sem ajuda. Mas uma coisa é certa, se ficar apegado ao barco, você sofre, você morre.

Pode ter muita gente com definições diferentes das minhas, que acredite que tudo que se quebra pode consertar mas eu, já por experiência, descobri que muitas vezes os barcos afundam e sozinho você nunca vai impedir o naufrágio. Se você ama alguém, não espere começar a tempestade ou a bater as ondas fortes pra mudar o rumo. Se esperar, o destino é conhecido...

Quando se tem dúvidas se existe amor no relacionamento em que está, então não existe!

E existem situações em que apenas vamos até o porto, olhamos o mar e pensamos que talvez nunca mais iremos colocar os pés novamente em um barco. Isso pode levar um tempo ou ser definitivo, depende de cada um de nós. Depende do quando sabemos lidar com as pessoas com quem nos apegamos.

Boa noite!

Álisson Alves

Alisson Alves é o autor do Blog Gente Incomum, escritor, blogueiro, e nas horas vagas curte jogos online, tocar violão e ler.

Nenhum comentário:

Postar um comentário